Hospital da Restauração recebe feridos por fogos no São João
Em todas as festas juninas, o agricultor José Cipriano Vieira, 41 anos, costuma soltar fogos e bombinhas. Na noite de ontem, a brincadeira deu errado e um rojão de vara não subiu como o esperado. O artefato estourou enquanto ele ainda o segurava, fazendo com que perdesse um pedaço do dedo e ganhasse queimaduras na barriga e no rosto. Ele e a irmã, Gorete Vieira, precisaram vir de Orobó, município do Agreste pernambucano, para receber atendimento de emergência no Hospital da Restauração. “Foi um susto enorme quando vi a mão toda estourada, achei que ia perder tudo,” desabafou a irmã.
Em outro município do Agreste, Angelim, a dona de casa Edneide Rodrigues da Silva conta que, por conta de uma queimadura, o marido perdeu muito sangue e sentiu muita dor. Mas, ao contrário de José Cipriano, Adriano Ferreira dos Santos não costumava soltar fogos durante o ciclo junino. Este ano, decidiu soltar uma bomba. “Ele não largou quando devia, aí estourou na mão dele”, conta a esposa. Adriano foi socorrido na Unidade Mista Santa Terezinha, na cidade, e precisou ser transferido para o Hospital da Restauração para ser submetido a uma cirurgia. O prognóstico é que o movimento da mão permaneça, mas a integridade de alguns dedos ainda está em jogo.
“Ele veio para trás de mim e acendeu a bomba. Se eu tivesse visto, não teria deixado. Ele nunca foi de fazer isso na vida”, lamentou a esposa. Por sorte, Adriano segurava os fogos apenas com os dedos. “Os médicos disseram que, se ele tivesse segurado na palma da mão, teria sido muito mais grave.” O casal angelinense deu entrada no HR ontem e deve voltar para casa ainda hoje.
A faixa etária de acidentes com fogos juninos é predominantemente adulta em relação às crianças, segundo o coordenador do SOS Queimaduras e Feridas do Hospital São Marcos, Marcelo Borges. “Algo em torno de 60% adultos e 40% crianças.” Segundo ele, são mais comuns queimaduras de segundo grau, que garantem dor, vermelhidão, inchaço, bolhas ou úlceras na pele. “Não são as mais profundas, mas são as mais frequentes no manuseio com fogos de artifício”, explica.
Nesses casos, ele indica que a primeira medida seja a aplicação água corrente sobre a lesão por um período de 15 a 20 minutos, sem aplicar medicação alguma. Para quem considera a utilização de receitas caseiras, mesmo naturais, o cirurgião alerta: elas podem causar mais dor. “Principalmente substâncias que que aderem muito à ferida. No atendimento emergencial, é preciso remover toda essa parte e isso aumenta ainda mais a dor do paciente.”
Borges aconselha que os fogos sejam adquiridos de marcas conhecidas em lojas especializadas para evitar acidentes. Ele explica que, em comparação a anos anteriores, os acidentes continuam acontecendo, mas em proporções menores. “Provavelmente a sociedade internalizou os riscos no manuseio, aí estão mais comedidos nessas brincadeiras.”